Emaranhados – Andressa Melo

O ato de caminhar tornou-se tão natural como respirar, reproduzimos de forma automática, ao caminhar não pensamos em qual pé mover primeiro, ou qual a distância de um passo para outro. Muitos usam a caminhada para meditar, organizar os pensamentos, como prática esportiva, peregrinação ou até mesmo como ato político.  Existem diversos exemplos de caminhadas, uma delas foi a Marcha do Sal em 1930, feita por Mahatma Gandhi e seus seguidores, eles percorreram por quase 400 km em 25 dias até o litoral do Oceano Índico. Sua caminhada foi um ato de desobediência civil contra o monopólio britânico, ao chegar Gandhi tomou em sua mão um pouco de sal do mar, esse ato representava que o sal pertencia aos indianos, e que estes podiam produzir seus próprios suprimentos.

Os exemplos de estudiosos, religiosos, e figuras históricas que usavam a caminhada para além da locomoção são inúmeros, esses exemplos mostram a diversidade de objetivos e significados que o caminhar pode ter. A caminhada também pode ser usada como arte, diversos artistas usam o caminhar para produzir arte, o artista Richard Long inseriu o caminhar em várias de suas obras. Na obra “A line made by walking”, Long percorreu o mesmo caminho até que uma trilha fosse formada a partir da sua caminhada, nessa obra ele usou a caminhada para mostrar os impactos que até mesmo um ato tão comum pode causar na natureza.

Usar o ato de caminhar dá ao artista variadas formas de produzir arte, a própria caminhada pode ser essa obra artística, um desenho, foto, vídeo, ou um bordado que foi a forma que escolhi para expressar os efeitos da caminhada em mim. Ao participar da ACCS “A Arte de Caminhar”, que teve como um dos objetivos explorar os diversos significados que a caminhada pode ter, as diferentes formas de caminhar e sua relação com a arte, pude experimentar de perto as boas sensações que o caminhar proporciona. Caminhar pela Ilha de Maré foi uma experiência sem igual resgatou lembranças da minha infância, propiciou inúmeras emoções, me permitiu conhecer diferentes pessoas, ouvir suas histórias e eternizar momentos através de fotografias. Até mesmo a exaustão corporal, o suor que derramei eram provas da caminhada, eram marcas deixadas pelo caminhar.

Escolhi como produção artística intervir nas fotografias da caminhada através do bordado, utilizando linha e agulha criei novos elementos nas fotos, preenchendo vazios, acrescentando novas formas e criando novas relações. Nomeei a produção de “Emaranhados” por me remeter a algo envolto por fios, sem ordem definida, que é exatamente minha intenção ao bordar as fotos, envolvê-las pela linha alterando aquele momento e criando novos significados.

Referências Bibliográficas

SOLNIT, Rebecca. A história do caminhar. São Paulo: Martins Fontes, 2016.

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