Narrativas da Arte de Caminhar. Escutando a Fé em Ilha de Maré – Josenete Teixeira Amorim

No  primeiro  dia 18.05.2018  na Ilha, o tempo  estava chuvoso, e nossa  caminhada foi  por cima  de muita lama  na trilha escolhida  pelo meu grupo, sob a  orientação do professor  e de mais  cinco estudantes  da Escola Municipal Ilha  de Maré. Até ali, não tinha  certeza do que fazer como produção  final. Porém, ao retornar, olhando as  fotos que tiramos, e visto que “lugares  novos oferecem novos pensamentos e novas possibilidades” (SOLNIT,  2016), percebi templos religiosos dentre elas, e resolvi escutar os  moradores com o foco em saber mais sobre a religiosidade do local, ao  voltarmos no dia 08.06. 2018.

Segundo  Tereza, V.,  (2012), ”Um olhar  e uma escuta dessintonizados  é uma forma de alienação da realidade  do grupo.” Assim, como fiquei com o grupo  de narrativas, a turma se dividiu próximo à  Escola e iniciamos a segunda caminhada. Enquanto  isso, passava por nós, seu Renato Neves, que embora  sem tempo, garantiu que falaria comigo posteriormente.  Dali em diante, segui com algumas perguntas simples acerca  da fé daquela comunidade, perguntas que fossem comum a todos.  Meu primeiro entrevistado foi o Sr. Béu, homem nativo da localidade,   disse não ter religião, mas que ali tinha uma diversidade de templos religiosos  (alguns já observados) onde eu encontraria várias denominações religiosas. Caminhando,  encontrei pessoas bastante receptivas, que se dispuseram a falar sobre suas crenças e  dos seus familiares.

Para  começar,  registrei algumas  falas. Nesse passo,  encontrei Aline, Sra. Maria  Eugênia e Sra. Linda, uma delas  espírita e as outras cristãs protestantes.  Elas disseram que eram novas ali, moravam há  apenas um ano, e que na rua onde moravam já tinham  visto três igrejas diferentes. Achamos também, muitos búzios  e conchas no caminho, logo, não perdi tempo em perguntar se tinham alguma  relação com a religiosidade das pessoas, disseram que eram muito usados para  o enfeite das casas, mas elas acreditam que alguns usem também para fins religiosos.

Conversei  com Sr.Diego,  que afirmou respeitar  a todas as religiões e  tendo elas, muita importância .  Ele tem 30 anos na Ilha e pertence  a comunidade evangélica. Alguns se diziam  católicos, mas não praticantes, e relataram  que a igreja costuma fazer procissão, novena e além  de comemorarem o dois de fevereiro, dia de Iemanjá.

Um  relato  interessante  foi do Sr. Oziel,  carpinteiro naval que  disse    ter  tem um  sindicato  (clientes do bar)  em Santana que religiosamente  não estão ali e só anda cheio  que essa era a fé ali. Quis saber  também, se diante de tanta diversidade,  eles tinham uma loja de produtos religiosos…  não tinha. Escutei ainda o Sr. Valdo, e a Sra. Nelia  de 68 anos, e por fim, Andréia, marisqueira, estudante adepta  da religião evangélica, na qual me falou de saúde, o que não era  o tema em questão, mas a escutei.

Por  fim consegui  falar com Sr.  Renato Neves, e  este falou que a comunidade  tem certificação quilombola a  qual pertence à escola. Mencionou ainda a  ancestralidade indígena e africana da Ilha,  e em especial ao povo de santo, onde culturalmente  muitas coisas tem se perdido, o que o próprio denomina  colapso cultural. À escuta, a esse povo faz sentido quando levamos  isso ao “pé” da letra. Após as escutas, agora entendo que o desafio  foi: Caminhar e escutar dando atenção à crença das pessoas, seja na lama,  na terra ou nas areias do mar, em Ilha de Maré, sem perder a passada. Como  diz Rubem Alves (2005), ‘Pra mim Deus é isso: a beleza que se ouve no silêncio.  Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando  a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto…”

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